Uma
conversa recente com uma professora de português,
cujo tema era a fraca adesão das pessoas em
geral e dos alunos em particular, a hábitos
regulares de leitura, como forma de melhorar o discurso
oral e ortográfico, levou-me a certa altura,
a dizer, “Só lêem o Pato Donald”,
“Muito pior do que isso”, disse ela, “É
não lerem nada”.
Na verdade, é preferível ler o que quer
que seja – mesmo histórias em quadradinhos
– a não ler coisa alguma. A leitura é
um dos actos de lazer de maior privilégio com
vista à aquisição de conhecimento
e à criação de elasticidade mental.
Ao mesmo tempo que o leitor interioriza – ou
tenta interiorizar – a mensagem literária,
vai construindo a imagem global que cabe no seu entendimento;
concordando e discordando do autor, conforme o desenrolar
do enredo se aproxima, ou não, da sua percepção
das coisas, das causas, das atitudes e das conclusões.
Na parte que diz respeito à leitura em si,
como forma de exercitação da mente para
a descoberta da mensagem que o autor tentou transmitir,
não interessa muito o rigor literário,
a construção das frases, a perfeição
na construção das orações,
a pontuação, o domínio das figuras
de estilo e outros “rigores” gramaticais,
sintácticos e semânticos. O que interessa
é ler, ler muito, ler tudo; o resto, a exigência
de rigor literário, virá, com certeza,
ao sabor de mais leitura e mais alinhamentos frásicos.
Pessoalmente, dou preferência a autores nacionais;
não só como forma de valorização
da literatura do Meu País, como também,
como forma de aprender com eles a arte da escrita;
do alinhamento de palavras e da disposição
do discurso.
Uma das obras de autores (e escritores) portugueses
que melhor conheço é a de João
Aguiar; um romancista cuja principal mensagem literária
privilegia o romance histórico; e que se iniciou
em mil novecentos e oitenta e quatro, com, A Voz dos
Deuses. João Aguiar, no tempo em que completa
vinte e um anos de carreira literária, venceu
o Prémio Literário de 2004, da Casa
da Imprensa.
Os prémios literários, independentemente
de serem atribuídos a título de incentivo
ou de consagração de carreira, são
sempre uma mais valia que, reconhecendo o valor de
obra e autor, enriquecem o cânone (literário)
ao qual também pertencem. Claro que, à
medida que autor e escritor vão construindo
a sua carreira e atingem os níveis de qualidade
literária como o conseguiu João Aguiar,
a um prémio literário possa ser atribuída,
pelo próprio, maior ou menor relevância.
Mas acredito que o paladar de vencer, seja sempre
uma agradável sensação!
Tal como a que certamente sentiu, Gonçalo M.
Tavares, com o Prémio Literário José
Saramago. Não sendo propriamente um estreante
na arte do alinhamento de caracteres – em 2004
venceu o Prémio Literário, da Fundação
LER/BCP – Gonçalo terá saboreado
(no meu entendimento) o seu prémio de maneira
mais ávida e sonhadora. Para o primeiro –
João Aguiar – é uma consagração
de carreira que apenas o terá feito sorrir,
naquele jeito discreto e pleno de charme que se lhe
conhece; para o segundo – Gonçalo Tavares
– é um incentivo à continuação
que não o deverá deslumbrar pelos êxitos
já alcançados. Um e outro estão
de parabéns.
Para bem da literatura e da leitura, é preciso
que haja cada vez mais praticantes da arte de ler;
do mundo todo e mais além. Mesmo os das histórias
em quadradinhos. Não só para ler aqueles
que já experimentaram ganhar prémios,
como também os que julgaram experimentá-lo.